segunda-feira, 30 de março de 2009

A máquina e o menino



_ O mundo perde um pouco de cor, quando as pessoas deixam de acreditar.
_ Por isso ele está todo escuro?
_ É querido, mas também é a poluição.
_ Precisamos de uma máquina para limpar o céu. - e o menino correu pelo quintal imitando uma máquina sugadora. - vruummmmm....
_ Precisamos de pilha para você. - A mãe terminava de colocar a roupa no varal enquanto sorria ao ver o filho brincar. Depois olhou para o céu acinzentado, não ia chover, nunca chovia, e também não havia nuvens, mas também não se via o céu. Caminhou até a área de serviço apertada, onde só cabia a máquina de lavar roupa e ela. E se lembrou do que tanto a aborrecia. - Eu só pedi um favor, mas parece que acabou a bondade das pessoas.

O menino voltou para junto da mãe prestando atenção em suas queixas, curioso de tantas palavras que as vezes, ele não entendia, mas ouvia atencioso. Ela continuou:
_ Ninguém acredita mais na gente!
_ Eu acredito.
Ela voltou a olhar para o céu:
_ Toda vez que uma coisa ruim acontece com alguém, essa pessoa passa a desacreditar. E tudo vai ficando embotado. Algumas pessoas se curam, mas a maioria sucumbe à descrença. As pessoas se ferem, não cortejam mais, não agradecem mais, não perdoam mais. E as boas ações são cobradas depois.
Ela parecia uma filosofa olhando para o céu e falando de seus pensamentos confusos. O menino passou a imitá-la tentando achar algo naquele mar de cinza que fosse tão interessante e inspirador:

_ Mamãe, o que está vendo?
Ela suspirou e olhou para o menino, sentindo piedade por tê-lo trazido ao mundo:
_ Estou procurando resposta para tanta desconfiança. O que há de errado no ser humano? Por que não falamos mais de respeito, sem sermos preconceituosos e quadrados? Por que alguém desiste de fazer o bem? Por que a outra escolha é melhor?
Houve então uma pausa, faltou forças para ela compreender. O menino num estalo de idéia falou:
_ Precisamos de uma máquina para limpar o homem. - E voltou a imitar uma máquina sugadora, apontava um cano invísel para todos os lados tentado sugar alguma coisa também invisível e ficou entretido na brincadeira.
A mãe pensativa o observava espantada, como era verdade aquilo...

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