segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Nunca mais sonhei aquele sonho então

Fui criada assim, chegou um determinado momento da minha vida, aqueles dos quais guardo as primeiras lembranças mais nitidas, em que só via meu pai a cada vinte ou trinta dias.


E assim era bom.



Quando ele estava presente, estava presente. Nós conversávamos bastante.

E tinha esse acontecimento, todo domingo, quando ele estava em casa, eu acordava cedo, para assistirmos tv juntos. Nós gostavamos dos pogramas e de fórmula 1.

Tínhamos essa ligação automobilistica.



Nos também sempre íamos juntos quando ele ia jogar na loteria. Era um divertimento. E às vezes eu podia escolher os números.

E durante todo o trajeto, todas as vezes, ele me ensina como dirigir. Sobre as marchas, sobre as placas, sobre o transito.

Então, quando ele não estava em casa, eu sonhava.



Eu sempre sonhava que estavamos no carro e que conversavamos.

Algumas vezes o sonho terminava em acidente e virava pesadelo. Sonho isso desde os meus quinze anos. Ou antes. Não sei ao certo.

Quando eu fiz dezessete, ele me ensinou a dirigir.

Quando eu tinha dezoito anos, meu pai faleceu num acidente de carro.

Nunca mais sonhei aquele sonho então.



Até ontem à noite.

Quando tive esse bizarro sonho, em que estávamos indo de carro para o Paraguai.

Ele vestia um camisa verde estranhamente florida, tinha um bigode engraçado e tinha a pele bronzeada.

Acho que no paraíso, ele deve estar tomando sol. Deve ser uma espécie de Hawai lá.

Conversarmos tanto e por mais que eu tente, não lembro sobre o que.

Esse sonho não terminou em pesadelo.

Só me deixou essa saudade estranha, de algo que de fato, não aconteceu.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Eu me esqueci das plavaras


Eu me esqueci das plavaras


não sei cruzar a rua sem medo

não sei contar

Não sei mais das nossas lembraças

tão amargas, insolentes que escorrem dos meus lábios

Não sei daquelas coisas boas que vi, senti, toquei

são agora, tristezas vermelhas e foscas que caem dos meus olhos

Não quero mais te ouvir

Sua voz anêmica e tímida de quem não interessa

me machuca

Incongruente

Queria poder falar tanta coisa, mas as coisas que me vem a cabeça são incongruentes e tolas.
Só me sinto assim, perdida. E ao mesmo idiota por me sentir assim.
Parece que só estou fazendo drama. E ao mesmo tempo sofrendo.
Me sinto culpada por tudo que faço. As coisas certas e as erradas.
É quando você parece saudável e que precisa ser curada ao mesmo tempo.
Não encontro as perguntas certas para obter as respostas.
Nem sei à quem perguntar.
As vezes me sinto dependete demais. As vezes livre demais.
As vezes só quero beber um pouco.
Não que isso melhore alguma coisa.
As vezes simplesmente não sei como me sentir.
Parece que me perdi. E sempre que tento me recompor. Esgota.
Existe um empecilho. Emperra.
Todos sabemos que não adianta mudar só o externo.
Ou simplesmente trocar o sofá.
 É necessário um esforço maior e válido. Daqueles que vc realmente acredita.
Não se joga um velho hábito pela janela. É necessário fazê-lo descer cada degrau da escada.
Continuo essa confusão de pensamentos e sentimentos. E ao mesmo tempo. Sou apenas eu.
Parece que quanto mais me importo, fica mais doloroso. Ou menos importante.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

EU NÃO SEI!


Hoje minha mão está doendo para caramba. E eu  não sei porquê.
Muitas vezes nos deparamos com isso na vida.
Com as incertezas.
Eu odeio as incertezas. Tanto quanto odeio estar errada.
Até sinto um certo conforto em não saber.
Não saber o que posso aprender.
Mas quando eu sinto que fiz tudo o que estava ao meu alcance e mesmo assim, mesmo com as perguntas certas, mesmo assim não sabemos o que causa aquele febre. Isso me deixa doente.
Eu já deveria saber, que é assim que eu começo. Do avesso.

O Haiti foi devastado. Ainda estamos chocados com aquela imagem crucificada no meio dos escombros. Aquela única que sobrou da igreja.
Aqui no Brasil, morremos afogados. Desesperados. Correndo dos bandidos. Morremos de medo.
Aqui em Ribeirão Preto, a vergonha dessa gente que não entende o respeito ao proximo. E terminou expulso da faculdade, já que até na lei existe eufemismo para racismo.
Aqui na minha casa, paira um ar estranho de que tudo está errado.

Mas o que eu realmente queria falar é que é doloroso para mim falar quando não me entendem.
E ter que explicar para aquela mãe que não tínhamos encontrado nada de errado com seu filho, foi sufocante.
Eu fiquei impaciente porque ela não me entendia. Seu filho tinha problemas de cognição. Estava tudo restrito.
Por fim, para terminar minha parte da consulta, sem  na verdade explicar nada eu disse que os exames iriam demorar.
Ela me respondeu que não interessava. Ela estava ali para descobrir o que o filho dela tinha.
Naquele momento eu me perguntei, e eu?
No fundo, eu sabia que não sabia e que não havia nada mais a fazer a respeito, além do que estava sendo feito. Mas senti culpa. Culpa por não me esforçar mais. Culpa por saber mais do que ela. Culpa por nossos vocabulários serem tão distintos.
Entao, respirei fundo e recomecei.
_ Não estou dizendo que seu filho não está doente. Estou dizendo que todos os exames que fizemos até agora deram normais. E que não sei o que ele tem. Por isso será necessário mais exames. Talvez passe logo, talvez em algum tempo apareça a causa da febre.
Ela finalmente me entendeu. Agradeceu e mesmo que não estivesse satisfeita, sabia que eu havia tentado.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Piada sem graça (desafabo)


Primeiro quero deixar claro que gosto de comédia. Gosto de rir. Apesar de passar boa parte do meu tempo com a testa cizuda. Ser séria, não  é ser, necessariamente, chata.
Meus amigos sabem que não tenho talento nato para piadista.... Mas eu me esforço, para desespero deles.
Não gosto é de banalização. Principalmente de assuntos importantes.
Me irrita um pouco, essa facilidade que os brasileiros, assim como muitos outros povos têm, de colocar humor em tudo. Transformando todos, TODOS os assuntos em piada. Mesmo que de fato, eles sejam.
Li, então, esse editorial da revista Gloss, falando que humor é arte. Não deixa de ser. Arte, pra mim, é algo tão pessoal que não precisa ser rotulado. Pode ser ou não ser, dependendo tão e exlusivamente das variáveis do artista ou do publico que admira ou é alvo, porque não?
Mas o fato é que, a banalização é que condena. É que tira atenção, é que desmerece.
Rir demais da política é o que nos torna a piada, não o centro das atenções.
Esquecemos fácil demais.
Aos poucos fui me cansando de ler essas piadas "inteligentes".
Já não sabia de quem eles riam.
Somos mais vítimas do que protagonistas?
De vez em quando gosto de ver uma boa critica com humor. Gosto de ver que entendi.
Também gosto de assistir coisas inúteis, fúteis, apenas pelo prazer da risada, porque é necessário também.
Mas em grande parte das vezes, gosto de levar a vida a sério.
É como entendo minha profissão, a arte e minha felicidade.

# Sou a contradição
Sou a alma e a vida
Sou a incompreendida
Não sou a risada
Mas sou feliz.... #

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Um olhar pela janela




Ela estava sentada. De onde estava podia ver através da janela. Ela nunca havia sentido aquilo antes.
Era como se uma idéia estranha tomasse conta de sua mente, seu corpo e sua alma.
Ficou ali, perdida naquele ponto fixo, que ninguém mais via.
Havia tanta pressão, tanta coisa para fazer e todos na verdade, não se preocupavam com ela. Que todos?
Que família?
Era um escritório grande, cheio de mesas. Não havia repartições.
Você pode pensar que era um tumulto aquilo.
Eram muitas mesas. Muitos telefones. Muitas vozes. Muitos compoutadores e muitos teclados.
Tudo era agradável até. De uma forma que ninguém entendia.
Numa época em que todos esqueceram de praticar a comunicação ao vivo, aquele escritório tinha seu ar estranho e aconchegante ao mesmo  tempo.
Funcionava.
As pessoas se tocavam. Sorriam. E aprendiam a ler expressões faciais, ao invés de associar dois pontos e parênteses com felicidade.
Ela não pensou tudo em tudo isso naquele momento. Era apenas parte do que ela era. Tudo isso era como sua respiração. Ela não pensava, mas era vital.
O que lhe ocorreu naquele momento foi mais filosófico e ela nem ao mesmo sabia o porque.
Através da janela ela não via nada. Apesar de olhar fixamente.
Seu vizinho de mesa percebeu seu encantamento. A tanto tempo ele queria lhe dizer tantas coisas, que o tempo já não permitia  o sentido, e então, se esquecera de como a achara especial desde o primeiro dia que começou a trabalhar ali. E nunca mais esqueceu o perfume do seu lindo cabelo amarelo.
Curioso, ele encarou a janela. A paisagem após a janela. Mas não viu nada.
E então, esqueceu do foco e ficou ali. Contemplando algo que tinham em comum.
Logo, todos do escritório aderiram a causa. A fofoca se espalhou. E todos olhavam para aquele ponto, tentando entender.
Não houve precisão temporal. Ela apenas pensou em um monte de coisa, que no fim das contas, nem eram tantas coisas assim,  o tempo passou, e não foi tanto tempo assim. Apenas se deu conta que há muito, muito, muito tempo não acontecia nada em sua vida.
Há muitos anos não havia motivos para chorar, ou mesmo para esplodir de felicidade. Tudo estava ok.
E aquilo dava medo nela.
 Porque era como o felino, esperando para pular no pescoço da caça e fazê-la sangrar até a morte.
Estava tudo quieto demais.
So se ouvia um telefone chamando ao longe. Insistentemente.
Em seguida, vários toques de chamadas. Pareciam um coro desesperado chamando pelo mundo real.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Família.

O primeiro passa é admitir que vc não sabe bost* nenhuma...
Sair de casa entendendo que sempre haverá alguma coisa a aprender. Se abrir para o mundo e suas oportunidades... Não se engane, sempre haverá alguém para substituir você. Essa é uma das poucas certezas que você pode ter.
Hoje revisei o conceito família.


Umas das coisas mais dificeis em pediatria é atender a criança com o pai.
O pai sempre é complicado. Sempre têm dificuldade em lembrar dos detalhes. E os detalhes são muito importantes.
A mãe sabe explicar exatamente a cor, a textura, a consitência, a quantidade e a frequencia do cocô do filho.
O pai entende que é apenas cocô, o filho faz e já está de bom tamanho.
Quando vemos a criança com o pai, já nos preparamos, vai faltar muitos detalhes das informções.

Hoje atendemos essa criança, um garoto com um clássico tênis do "ben 10", cinco anos de idade e prolixo. Ele veio acompanhado do pai. Confesso que já respirei fundo. Mas tudo bem, era só um retorno, muitas das informações já deveriam estar na pasta.
O pai, tinha um problema para andar, o fazia com ajuda de um apoio e ficou ali em pé, timido, recostado à parede, e por mais que nos esforçassemos ele se recusou à sentar. Era compreensivo, porque iriamos ver a dificuldade que ele teria e isso o deixaria vulnerável. Coisa que ele não queria transparecer.
Era um homem muito simples, com boa postura e orgulhoso por ser quem era. Parecia que ele sabia exatamente isso.
Foi uma das minhas primeiras lições, somos nós quem dizemos quem somos. Não vem do meio. Vem da gente. E é tão raro a gente saber disso. Mas ele, sabia.

E então a consulta começou, e ele sabia explicar tudo. Não vou dizer que não existiram outros pais tão atenciosos, mas são raros.
Bem atento aos comentários e orientações, bem humorado, com toda sua simplicidade, demosntrou que era um bom pai.
Explicamos tudo que era necessário, nos apaixonamos pelo garoto e todo seu conhecimento pelos monstros do "ben 10".

No fim, descobrimos que o garoto era adotado. O pai, o encontrara abandonado pelas ruas, o levou para casa, ofereceu um lar e mudou o nome dele.
Na hora foi só uma história bonita, raras de se ver.

Mas agora, cheia de inspiração, aprendi mais uma coisa. Ou reforcei o aprendizado.
A família.
Aqueles que a gente escolhe sim, amar. Não o acaso.
Aquele homem, deficiente, com todas as suas limitações, que com certeza não sei detalhar, abriu seu coração e sua casa para receber um estranho e construir uma família.
Não havia cor, errado, diferente, dificuldades, limitações, ofensas, que poderiam interferir.
Havia amor.

Quando nos apaixonamos, escolhemos alguém para construir uma família. Quando a mulher está gerando o filho, todos ESCOLHEM amar aquele novo integrante.
Quando fazemos novas amizades, escolhemos.
Não é diferente da adoção.
Família, a gente escolhe.
Ou pelo menos, decide se ama ou não.

Então, é assim, você tem esses bonecos brancos, carecas e sem graça.
Você pode escolher passar o resto da vida reclamando, porque seus bonecos são feios e defeituosos, enquanto os do seu vizinho são bonitos, azuis e cabeludos.

Ou, você pode pintá-los. Aumentá-los. Vesti-los. Comprar uma peruca. Desenhá-los com lápis de cor.
E amá-los.