sábado, 19 de setembro de 2009

Sobre escolhas e erros

Para ver: As maiores trapaças de todos os tempos


Muita coisa tem acontecido. A normalidade de nossos dias.
A tecnologia. A globalização.
Muita coisa acontece. E todo mundo sabe de tudo. Ou o mínimo que dá tempo de saber.
O interessante disso tudo, dessas reviravoltas e descobertas e redescobertas e invenções, é que não se muda muito.
O relacionamento humano acaba o mesmo, ou muito parecido com o que sempre foi.
Desde a invenção do poder. Desde a intuição dos lideres. Sempre que o mais fraco perdeu.
Desde essa necessidade humana de regras. De definir o que é certo e errado.
Então as regras estão aí, e de vez em quando são modificadas, para acompanhar as mudanças. Mas não mudam muito, de fato.
E seguimos nossas vidas escolhendo entre o certo e o errado. Pelas regras humanas. Nós que definimos tudo isso.

Dizem que a primeira impressão é a que fica.
É possível apagar uma primeira impressão?
Difícil mesmo é mudar as escolhas.
Muitas vezes, aquele lado da moeda vai marcar sua vida para sempre.
E vão decidir por você o que é certo e errado, pelo o que você escolheu fazer. Ou nao fazer.

Pelas regras humanas. Que nós modelamos. E remodelamos.

E essas escolhas nos marcam. E ficamos conhecidos por elas para sempre.
Ou até outra escolha mudar tudo.
Como este piloto de fórmula 1 que tomou decisões aparentemente equivocadas.
Aceitou quebrar as regras. E se calou.
E depois decidiu que deveria contar a todos.
E claro, foi punido por sua coragem, ingenuidade, burrice, trapaça.
Mas ele não revelou que o achava errado, pelo contrário, o jamais teria feito.
Sua escolha, que antes parecia lhe resultar em lucro, de repente passou a ser insignificante.
Não houve boas escolhas.
E ele ficou marcado.
Mas não foi boa intenção. Foi egoísmo. Auto-preservação. Instinto animal?

Como aquele outro piloto, que era o segundo.
Era bom. Mas escolheu ser o segundo melhor.
E não ficou marcador como melhor.
Apenas como segundo.
Ele escolheu desacelerar para dar mais pontos a quem tinha chances. Fez pela equipe.
Mas era apenas, o segundo...

E a vida continua.
E nossas escolhas continuam...
Como dormir com um homem casado.
E parecer que você não fez nada de errado. Não pelas regras e talvez você não vá para o inferno. Talvez.
Mas suas escolhas não mudam. No momento que você poderia ter renunciado.
Continuou sendo a escolha errada.
Pelas regras humanas. Que fazemos. Escolhemos.

Uma cirurgia que não deu certo.
Palavras mal escolhidas.
Uma morte não vivida.
E essas escolhas nos marcam. Para sempre...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Paciência

Não há o que não se possa superar
Mas existem escolhas,
brigas e infinidades de coisas
Há vida...
E num só tempo há ilusão
Um velho recado pregado na parede
Uma virtude: Paciência
Ninguém compra
E não é facil de obter
Seu toque
Não se resiste ao amor
Mas não há meios de brigar com ele
Apesar de haver coisas infinitas
Eu busquei um tesouro perdido
E me encontrei com piratas
e um navio perdido
Não há lugar aqui para o passado
Só para novas escolhas
Porque você não fica aqui?
Entre meus cabelos
Encosta seu queixo no meu ombro
e me pergunta por onde estive
Será que você volta?

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Uma cena pinturesca


Você já reparou que quando chove um estado de espírito diferente toma conta da gente também? Talvez seja só nos primeiros momentos. Talvez seja só comigo.
Não é bem melancolia. É uma sensação estranha, como se o céu chorasse.
Parece uma sensação de fragilidade. De impotência.

Mas depois, nos acostumamos. Nos acostumamos com tudo.

Com separações. Com ilusões. Com a morte. Com dinheiro. Com roupas estranhas. Com a falta de comida. Com longos beijos. Com cachaça. Com comida insossa. Com o frio. Com a praia. Com a internet. Com nove dedos. Com parentes. Mesmo com a sogra.
Só não sobrevivemos à tudo...

Outro dia, estava sentada num daqueles baquinhos de madeira, pintado de branco. Conversava com uma amiga, assuntos muitos banais. Ríamos sem motivo algum.
Depois por um momento, observei a chuva que começava.
Foi um daqueles momentos que o assunto acaba, que o fôlego acaba, que a graça acaba.

E eu fiquei olhando para a chuva que vinha fria, num dia estranho de sol.
Ela molhava o telhado e graciosamente vi como uma pomba se estreitava nos vãos das telhas e se esgueirava para fugir da chuva.
E logo sumiu na escuridão de seu abrigo.
E a chuva continuava, nos fazendo reféns... E ao mesmo tempo espectadores de sua magnitude.

domingo, 6 de setembro de 2009

Jejuando



Aos poucos vou me familiarizando com a falta de sono e comida. Sono, nem tanto.
Aos poucos parece que o barulho ao longe, se torna insignificante. Mesmo quando não há respeito, mesmo assim, você pode ignorar o ambiente, as pessoas, e a falta de educação. Enquanto discutem relacionamentos, na sala de estudos.
A chuva lá fora, que teima em começar e não se fixar, aos poucos, ela se torna parte de você. Do que você vê e do que você é. Na verdade, tem mais haver com o que você ouve.

Aos poucos, não faz diferença escrever.
Lá fora, do outro lado da janela, na rua molhada, os passos apressados, os freios um pouco à tempo, aos poucos, ela tem história para contar.
Aqui dentro, não muito frio e às vezes não muito quente. No feriado, sem muito movimento.

Tem esse policial estranho, que está sempre por aqui agora. Para vigiar o baleado.
Baleado, cuidado, vigiado, decorando o novo ambiente.
No leito, do lago, os peixinhos morrendo de fome. Não morrendo, mas jejuando.
A barriga, volta a roncar então. E não há comida. Não que seja falta de dinheiro, nem falta de tempo, nem falta de sono. É só falta de educação.

De respeito.

Sou a favor das regras e do bom senso. Para salvar vidas. Não para humilhar.
Continuo lendo, esqueci meu ticket. Esqueci meu prato.
E a meu lado, tem uma parede inerte, que não sofre por mim. À minhas costas, a chuva lá fora, e a pista molhada contando suas histórias.
Aqui, na minha frente, um grupo de mulheres gulosas, sobre realidades, encontros e desencontros, sobre cinema e festas e muito comida à mostra.
Não me oferecem, nem mesmo, o farelo do pão.

sábado, 5 de setembro de 2009

Finalmente, uma visita




Depois de ouvir alguém bater a porta, ela se levantou apressada e foi em direção ao banheiro enquanto dizia ao filho que acabara de acordar:
_ Rafael, atende à porta!
O menino percebeu que a mãe ia lavar o rosto. Olhou-a por um tempo, indeciso se precisa se preocupar com aquilo. Bateram de novo. Do banheiro, Estela gritou:
_ Rafael!
Ele, então pulou da cama e correu até a porta, abriu apressado e viu um casal muito simpático:
_ Oi, querido. – Disse a mulher, que usava um vestido vermelho com bolinhas pretas com um casaco preto e tinha os cabelos loiros cacheados.
Ele disse oi, timidamente e se afastou para que os dois entrassem. Ela continuou:
_ Cadê sua mãe?
Estela entrou na pequena sala:
_ Que bom ver vocês. Já estava com saudades!
Ela os abraçou e então apontou para os sofás para que se sentassem. Seus móveis eram muito bonitos e modernos. Em tons de púrpura, tabaco e branco, muito bem arranjados, o que dava um ar agradável ao ambiente.
Todos se sentaram. Automaticamente o assento se ajustava ao biótipo, e tornava-se mais confortável. Estela perguntou:
_ Então, Bianca, o que vocês fazem aqui?
Bianca, sorriu, não sabia se já podia tocar naquele assunto, olhou para Rafael amavelmente:
_ Viemos te visitar. Eu e o Caio, estamos tão sozinhos.
Caio olhou para a mulher, percebendo que alguma coisa estava errado nela. Era um homem muito bonito e uns dos mais inteligentes do banco onde trabalhava. Tinha quase sempre um olhar de superioridade, mas no fundo era uma pessoa humilde, simples e tranqüila. Então falou:
_ Precisávamos de férias. Como estão as coisas por aqui? Quando o Marcelo volta?
_ Está tudo bem. Na medida do possível. Às vezes nem parece que estamos envolvidos numa guerra.
Caio abaixou os olhos. Amargava a situação que sua nação se encontrava.
Logo Rafael estava envolvido numa brincadeira com um aviãozinho de brinquedo, enquanto os adultos conversavam distraídos sobre assuntos banais, remoendo discretamente seus sentimentos de culpa, ódio e saudade.
Rafael passeava pela sala, envolvia-se entre eles e ouvia algumas poucas palavras, às vezes ficava curioso e prestava um pouco mais de atenção, mas logo se entediava e voltava à sua diversão.
Distante, ele ouviu umas vozes de meninos brincando. Entusiasmado pulou na frente da mãe:
_ Mãe, posso ir brincar com o Pedro, lá fora?
_ Não, Rafael. Não gosto que você fique brincando na rua.
O menino pestanejou, e quase estava aos prantos quando Caio interviu:
_ Tudo bem Estela, eu fico um pouco com ele.
Caio pressentia que as irmãs precisavam conversar. E precisavam ficar a sós. Ele mesmo não queria mais aquelas conversas banais. Se levantou, deixando o menino em êxtase de felicidade. Os dois foram para rua.
Bianca se sentou do lado da irmã. Estela mantinha o olhar para o chão. Não gostava de deixar o filho na rua, Marcelo odiava aquilo.
Bianca acarinhou os cabelos da irmã, e falou:
_ Sinto saudades de você. Porque você não volta para casa? Pelo menos enquanto o Marcelo estiver fora.
_ Não posso Bianca. – O olhar de Estela se mantinha baixo. – Tenho que cuidar da minha casa.
_ Tem previsão para o Marcelo voltar?
Houve um tempo de pausa. Estela então, olhando para a irmã falou:
_ Você pode acreditar que estamos passando por isso? Justamente nós? Nós que estivemos à frente dessa briga? Que éramos contra tudo isso.
_ Política não é fácil.
_ Isso não se trata de política. Não se trata de nada. Se trata de pessoas ignorantes, injustas, que sempre detêm o poder. Pessoas que não sabem o que fazer.
Bianca se mantinha calada, parecia que a irmã precisava desabafar.
Estela continuou:
_ Eu só queria que as coisas voltassem a ser como antes. Queria parar nos momentos de nossas vidas, quando éramos felizes. Acordar todos os dias naquela banalidade. Quando eu podia só me importar com o desenvolvimento do Rafael. Se ele estava crescendo bem, se cairiam os dentes, se estava machucado ou aprendendo a ler.
_ Estela.
_ Queria que a injustiça fosse simples. Que todos soubessem e entendessem o que é errado.
_ Não somos nós quem decide isso.
_ Eu sei. Mas deveríamos.
Houve mais um momento de silêncio.
Bianca então falou:
_ Haverá desses momentos em nossas vidas, sempre. Quando você vai querer que tudo se acabe logo. Tudo isso tem uma razão de ser.
_ Como você pode ter tanta certeza disso? – Estela encarava a irmã com expressão de socorro. – Como pode se manter tão serena?
_ Da mesma forma que você consegue. Não estamos aqui para pular etapas. Estamos aqui para aprender. Para mudar. Para nos moldar. Para nos resignar.
_ Não acredito mais em nada disso. Só vejo injustiças.
_ Então pare de ver. Sinta. As coisas vão melhorar. E mesmo que não aconteça, você precisa viver e se conformar, Estela. As coisas são, como elas deveriam ser. Independe de crenças e medos. Independente dos seus desejos, Estela. Lamentar não vai trazer de volta o que era bom. E se trouxesse, o que era ruim também voltaria. Os momentos não estão aí para ser escolhidos, mas para serem vividos.
_ Qual a definição de viver?