quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Uma cena pinturesca


Você já reparou que quando chove um estado de espírito diferente toma conta da gente também? Talvez seja só nos primeiros momentos. Talvez seja só comigo.
Não é bem melancolia. É uma sensação estranha, como se o céu chorasse.
Parece uma sensação de fragilidade. De impotência.

Mas depois, nos acostumamos. Nos acostumamos com tudo.

Com separações. Com ilusões. Com a morte. Com dinheiro. Com roupas estranhas. Com a falta de comida. Com longos beijos. Com cachaça. Com comida insossa. Com o frio. Com a praia. Com a internet. Com nove dedos. Com parentes. Mesmo com a sogra.
Só não sobrevivemos à tudo...

Outro dia, estava sentada num daqueles baquinhos de madeira, pintado de branco. Conversava com uma amiga, assuntos muitos banais. Ríamos sem motivo algum.
Depois por um momento, observei a chuva que começava.
Foi um daqueles momentos que o assunto acaba, que o fôlego acaba, que a graça acaba.

E eu fiquei olhando para a chuva que vinha fria, num dia estranho de sol.
Ela molhava o telhado e graciosamente vi como uma pomba se estreitava nos vãos das telhas e se esgueirava para fugir da chuva.
E logo sumiu na escuridão de seu abrigo.
E a chuva continuava, nos fazendo reféns... E ao mesmo tempo espectadores de sua magnitude.

Um comentário:

Funfas disse...

chuva me inspira também. mas não sinta impotência ou tristeza. é estranho, quando chove me dou conta do quanto o planeta é velho.

é como se a chuva trouxesse as memórias do mundo, de tempos distantes, de volta para a terra. me dou conta do quanto somos insignificantes e do quanto não sabemos de absolutamente nada. mas mesmo assim, bate a sensação de que fazemos parte de tudo isso.

acho que a chuva é uma comunhão de todas as coisas, interligadas pelos céus. se o sol não brilha pra todos, ao menos a chuva não exclui ninguém ao cair dos céus.

belo texto Jule.

bjão